Este é um espaço interativo, construído pelos alunos da discplina Literatura Brasileira II, ministrada na Universidade Federal do Ceará - turmas 2007.1 & 2007.2. Temos como meta discutir,divulgar e produzir conhecimentos acerca do panorama literário brasileiro compreendido no último quartel do século XIX.

domingo, 23 de setembro de 2007

A Fome ( Rodolfo Teófilo)

SEMINÁRIO SOBRE A FOME - CENAS DA SECA DO CEARÁ

DE RODOLFO TEÓFILO

EQUIPE

Fábio Rodrigo

Jonathan de Queiroz Viana

Kall Lyws B Sales

Márcio Lima

BREVE EXPOSIÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS NATURALISTAS

Para uma melhor análise da obra de Rodolfo Teófilo é necessário o conhecimento de algumas das características do Naturalismo. Como se sabe, o Naturalismo é, também, realista só que representa uma tendência mais voltada ao cientificismo, com aplicação das teorias científicas em voga na época, dando ênfase, às personagens, ao instintivo e ao patológico, ou seja, considerando o homem em sua condição animal. Daí a produção literária naturalista apresentar o chamado romance experimental ou romance de tese.

Além dessas, a obra essencialmente naturalista apresenta as seguintes características:

  • Ânsia de explicar tudo cientificamente
  • Determinismo com relação à atitude das personagens (nem tudo depende de sua vontade; pode haver imposição do meio, da hereditariedade física e psicológica).
  • O homem e os outros elementos da natureza são vistos como sujeitos as mesmas leis da evolução.
  • O homem é encarado como produto da raça, do meio ambiente.
  • As personagens são semelhantes entre si, na medida em que apresentam desequilíbrios característicos de sua condição.
  • Preferência a ambientes em que predominem miséria e ignorância.
  • Animalismo

DO AUTOR E SUA BIOGRAFIA

Segundo Otacílio Colares, Rodolfo Marcos Teófilo é, indubitavelmente, o mais representativo escritor do Ceará de todos os tempos. Sua obra literária, que não é considerada modelo em parâmetros estilísticos, é, em compensação, do ponto de vista regional, sempre tão valorizado pela história e críticas literárias, uma espécie de vultoso monumento em torno do qual, com o passar do tempo, têm vindo abeberar-se ficcionistas e sociólogos de todo o Nordeste brasileiro, até os nossos dias.

O autor de A Fome era neto do negociante lusitano Manuel José Teófilo e de Dona Isabel Samico Teófilo. Seu pai, o médico Marcos José Teófilo, nasceu na cidade de Fortaleza, em 22 de outubro de 1821, formou-se em Medicina na tradicional Faculdade da Bahia,em 13 de dezembro de 1849, vindo a falecer em Pacatuba em 15 de dezembro de 1864, aos 43 anos. Dessa ascendência ,em que não deve estar esquecido ser a bisavó de Teófilo uma Feitosa, o que significa dizer – descendente do tradicional e bravio clã secularmente dominante nos Inhamuns. Procedem várias peculiaridades individuais do autor de A Fome , dentre essas ao arraigado e como visceral amor à gleba cearense, uma extraordinária capacidade de compreender o Ceará, no vasto leque de suas virtudes e defeitos; apego quase instintivo à Ciência, como por atavismo e mesmo educação doméstica, ele que se formaria em Farmácia e trabalharia largo tempo da vida em pesquisas de laboratório, daí, neste ou naquele passo de uma e outra de suas obras de ficção, um certo vezo de cientificismo, a que, aliás, não esteve infenso nenhum dos que, seus contemporâneos, viveram no Brasil, o fastígio do Naturalismo. Isto sem equecer, na sua personalidade, o alto sentido de bravura pessoal e independência de atitudes, que foram a constante maior de sua vida.

Baiano por acidente, mas descendente direto de cearenses, aos onze anos, quando lhe morreu o pai, em Pacatuba, a sensibilidade plástica do menino Rodolfo Teófilo já estava impregnada de sensações que as conversas dos maiores, resguardadas na memória das gerações sucessivas, ficar-lhe-íam acumuladas no subconsciente, para eclodirem, depois nas histórias longas e curtas que nos deixou, verdadeiros murais em que a crua realidade humana e ecológica correm parelhas com o fantástico, todos esses imensos painéis vibrados nas tintas pungentes da tragédia.

DA OBRA DE RODOLFO TEÓFILO

A Fome, primeiro romance e primeira obra em livro de Rodolfo Teófilo, trai, no longo texto de 507 páginas, o escritor já amadurecido, quer no trato dos temas central e colaterais, quer na maneira peculiar do estilo, que aqui e ali pressupõe o reflexo das leituras juvenis dos romancistas românticos, portugueses sobretudo, embora o que predomine, já então, no tocante à maneira de escrever, seja a despoliciada concessão ao coloquial, pois soaria falso um romance que, tratando material humano e ecológico de características eminentemente adversas do requinte nobre ou do fausto burguês, tivesse o seu compositor a enquadrar seu estilo ou nos moldes poéticos dos romances de Alencar ou no bem-comportado e mesmo lisboeta escrever de Machado de Assis.

Em Teófilo, guardadas as devidas proporções, a aspereza dos estilos é decorrência, quando não imposição, das peculiaridades chocantes da região a ser transformada em ambiente e do drama de adaptação e vida do homem na referida região. A Fome pode ser considerado um dos mais chocantes livros de ficção de Rodolfo Teófilo, senão um dos mais chocantes da ficção brasileira de todos os tempos, afirma Colares, salientando não se ter atemorizado seu autor, mesmo em face do que, contado em livro de ficção, por suas características de barbaridade, passa para o domínio do fantástico. É notável a dantesca descrição que faz o escritor cearense do personagem de seu romance, este chegado ao estado máximo de alucinação pela fome que chega a conservar por três dias uma criança morta, de cuja carne se servia para sustento.

Nesta obra, a paisagem do Nordeste abandonado e heróico é retratada através das gradações espectrais da desnutrição e da penúria, com seu caudal de verdades sociais e econômicas aviltantes, chegando às raias do inacreditável.

A ANTROPOFAGIA RETRATADA NA OBRA DE TEÓFILO

Dentre as características do Naturalismo pode-se destacar, na obra A Fome, o homem agindo instintivamente, ou seja, o homem voltando ao seu estado primitivo em decorrência das adversidades de sua existência. Desta forma, O ser humano é levado apenas pelo desejo de saciar uma das necessidades primarias, a fome.

O faminto não obedecia; e continuava a roer as unhas e a comer as escamas que se desagregavam da pele. Agora fitava o rosto de Carolina perto de si, completamente exposto e alumiado em cheio pela luz da fogueira. Percebia os tons daquela carnação, mas com o apetite da besta esfomeada. As narinas dilatam-se-lhe mais, fareja, sorve o cheiro daquela carne sadia na qual tem ímpetos de saciar a fome e rasgá-la a dentadas.(...) O delírio aumenta na esperança de mastigara as faces da moça.(pg. 34)

É notável a presença de características canibalísticas nas atitudes da personagem, esta agindo apenas pelo instinto. A descrição de um ser humano farejando e buscando saciar-se com carne humana mostra que o delírio famélico condiciona as atitudes do homem.

A TEORIA PSICANALÍTICA DE FREUD – ESTRUTURA E DINÂMICA DA PERSONALIDADE

Segundo Freud, a personalidade é composta por três grandes sistemas o id, o ego e o superego.

O id é a única fonte de toda energia psíquica (libido). É de origem orgânica e hereditária. Apresenta a forma de instintos inconscientes que impulsionam o organismo. Há dois tipos de instintos: de vida; tais como fome, sede e sexo; e os de morte, que apresentam formas de agressão.

O id não tolera a tensão. Se o nível de tensão é elevado, age no sentido de descarregá-la. O principio da redução de tensão, pela qual o opera chama-se princípio do prazer. O id, no entanto, não conhece realidade objetiva, por isso não pode satisfazer as necessidades do organismo. Surge então o ego.

Pode-se encontrar a manifestação do id na obra no momento em que as personagens encontram-se em estado total de delírio famélico, agindo por instinto e deixando de lado as instituições e crenças.

O infeliz coçou-se, roeu as unhas com gula e desespero, rangeu os dentes, mastigou a saliva e articulou com dificuldade fome, mas em um som abafado e todo gutural. (pg. 34)

A boca esfomeada do recém nascido instintivamente procurava o bico do peito, mas embalde; as mamas estavam reduzidas a murchas pelangas que se colavam as costelas. (14)

A multidão de esfomeados revolucionava, seguia movida, unicamente, pelo instinto de conservação. (pg. 43)

Já o Ego existe porque são necessárias transações apropriadas com o mundo objetivo da realidade. O ego opera pelo princípio da realidade. Para realizar suas funções, isto é, procurar satisfazer objetivamente necessidades do id, o ego tem o controle e todas as funções cognitivas como perceber, pensar, planejar, e decidir.

Por fim, o superego é representante interno das normas e valores sociais e foram transmitidas pelos pais através do sistema de castigos e recompensas imposto à criança. Com a formação do superego, o controle dos pais é substituído pelo autocontrole. O superego nos pune (remorso, culpa) quando fazemos algo de “errado”, e também nos compensa (satisfação, orgulho) quando fazemos algo meritório.

As principais funções do superego são: inibir os impulsos do id (natureza agressiva e sexual) e lutar pela perfeição.

Para melhor exemplificar como funciona os níveis de consciência e os sistemas de personalidade a utilização do gráfico do iceberg é clássica:



SUPEREGO,EGO,ID


O ANIMALISMO

Segundo a teoria supracitada pode-se perceber que o id, responsável pelos atos instintivos, é totalmente inconsciente. Na obra, esse sistema de personalidade é vigente em quase todas as passagens, tendo em vista que as personagens agem em busca de alimento e sobrevivência, pois seus corpos, impulsionados pelos instintos, já não possuem consciência em virtude de seu estado famélico, esquecendo, desta forma, a realidade e as convenções sócias, agindo então como animais. O próprio autor usa para seres humanos, por ênfase, sintomas patológicos peculiares aos bichos.

Todos estavam magros, estropelados, cansados, e muitos enfermos de anasarca.(pg. 28)

Não era um bicho, mas um homem que a fome reduzira a bicho. (pg.33)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TÉOFILO, Rodolfo. A Fome / Violação.( Organização de Otacílio Colares) Vol. II Livraria José Olympio Editora. Rio de Janeiro, 1979.

AZEVEDO, Sânzio de. A padaria espiritual. Fortaleza. Publicação da Casa José de Alencar, 1970.

BOSI, Alfredo. História concisa da Literatura brasileira. São Paulo. Cultrix, 1970.

SITES CONSULTADOS

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rodolfo_Te%C3%B3filo

http://www.comciencia.br/resenhas/teofilo.htm

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