Antonio Mariano Alberto de Oliveira (1857-1937)
1. Autor
Nasceu no Rio de Janeiro, publicou seu primeiro livro de poesia, Canções Românticas, em 1878. Na época, trabalhava como colaborador do Diário, com verso e prosa, sob o pseudônimo Atta Troll. Em 1883, conheceu Olavo Bilac e Raimundo Correia, com os quais formaria a Tríade do Parnasianismo Brasileiro. Formou-se em Farmácia, no Rio, em 1884. Iniciou o curso de Medicina, mas não chegou a concluí-lo. Na época, publicou Meridionais (1884), e
2. Obra
2.1. Ortodoxo?
O Parnasianismo brasileiro tem início em 1882, com a publicação de Fanfarras de Teófilo Dias. Mas, para alguns críticos, a nova estética surge em 1878 com a publicação de As Canções Românticas de Alberto de Oliveira e cristaliza-se, somente, em 1886, com a obra Sonetos e Rimas, também do mesmo autor, como declara Manuel Bandeira:
“Essa data de 86 marca, com a publicação de Sonetos e Rimas de Alberto de Oliveira, a cristalização do movimento anti-romântico em moldes parnasianos (...)”.
Segundo Sílvio Romero, Alberto de Oliveira é considerado o mais ortodoxo de todos os parnasianos; Eça de Queiroz compartilha da mesma opinião de Romero, como podemos comprovar com a carta que enviou a Alberto de Oliveira:
“Não me queira mal, ou esqueça o mal que me tenha querido por eu só tão tarde ter agradecido o elegante livro.
«O coração põe e a Vida dispõe»: e a minha tão tiranicamente se tem comportado que não me deixa tempo para cumprir uma obrigação logo que a ela se mistura muita devoção.
Foi com alvoroçada simpatia que abri as folhas das Palavras Loucas. Mas Loucas por quê? Através delas só entrevi Razão, e madura, ou na fácil véspera de amadurecer. E nelas próprias só vi precisão, limpidez e ritmo que são qualidades de Razão e das melhores (...).”
“(...) Em todo o caso o grito do Tradicionalismo é um belo grito, sobretudo quando nos chega numa voz tão polida, e culta, e penetrante, e elegante como a sua. E aqui volto ao meu primeiro louvor, o da forma excelente, tão fina e luminosa, que reveste todo o seu livro.”
Entretanto, não é o que se percebe, quando se analisa toda a sua obra. Em 1926, ao ser entrevistado por Prudente de Moraes, Alberto de Oliveira declara que não teve no Brasil, um Parnasianismo propriamente dito e o entrevistador argumenta:
“― Francisca Júlia, talvez.
“― Sim, lembra bem, Francisca Júlia.
“― Certos sonetos de Raimundo Correia, de Bilac e do Senhor mesmo, o seu “Vaso Chinês”, por exemplo.
Daí o próprio Alberto de Oliveira confessa:
“― Mas são exceções sem grande importância. O chamado parnasianismo saiu das largas algibeiras das calças inglesas de Artur de Oliveira.
Obs.: Artur de Oliveira foi considerado o introdutor das idéias parnasianas no Brasil. Teve uma vida curta, morrendo aos 31 anos. Tinha fama de culto e conservador, conviveu em Paris com Victor Hugo, Leconte de Lisle, Théophile Gautier e Catulle Mendes.
Alberto recorda que o havia conhecido em agosto de 1877, num Café na rua do Ouvidor, onde se reuniam Teófilo Dias, Artur de Oliveira, Fontoura Xavier, Francisco Antônio de Carvalho Júnior e ele (Alberto de Oliveira) comparecia algumas vezes; então, Artur de Oliveira empolgava a todos com as suas leitura de Banville, Gautier, Baudelaire, Sully e Prudhomme.
Reforçando a visão de Alberto de Oliveira, José Veríssimo diz que Parnasianismo originário da França sofreu modificações quando chegou ao Brasil, já que toda a emotividade inerente à tradição poética brasileira não combinava com a impassibilidade proposta pela escola .Devemos lembrar que o poeta produziu suas obras por mais de cinqüenta anos e é praticamente impossível ser fiel a um mesmo estilo durante tanto tempo.
2.2. Quase parnasiano
“Aparição nas Águas”
Vênus, a ideal pagã, que a velha Grécia um dia
Viu esplêndida erguer-se à branca flor da espuma,
Cisne do mar Iônio
Mais alvo do que a bruma!
Visão, filha, talvez da ardente fantasia
De um cérebro de deus:
Vênus, astro – no mar e lágrima – nos céus;
Vênus, quando eu te vejo a resvalar tão pura
Do oceano à flor;
Das águas verde-azuis na úmida frescura:
Vem dos prístimos céus
Vem da Grécia que é morta,
Abre do céu a misteriosa porta
E em ti revive ó pérola do amor!
Esse poema é considerado parnasiano devido à presença das figuras mitológicas, por exemplo, a deusa Vênus, mas percebemos claramente a forte presença do lirismo amoroso. Quanto à forma, não apresenta o rigor da métrica.
2.3 Um Verdadeiro Ortodoxo
“A Galera de Cleópatra”
Rio abaixo lá vai, de proa ao sol do Egito,
A galera real. Cinqüenta remos lestos
Impelem-na. O verão faz rutilar, aos estos
Da luz de um céu de cobre o horizonte infinto.
Pesa, abafado e quente, o ar circunstante. Uns restos
De templo ora se vêem, lembrando extinto rio;
E ainda pilono erguido, e a esfinge de granito,
De empoeirado cariz e taciturnos gestos.
De quando em quando à flor do Nilo se destaca,
D’ água morna emergindo a escama de um facaca;
O íbis branco revoa entre os juncais. Entanto,
Numa sorte de naos, Cleópatra procura
Su’alma distrair, prestando ouvido ao canto
Que a escrava Carmion tristemente murmura.
Esse poema figura entre os mais ortodoxos, pois sua temática refere-se a uma cena do fim do Império Egípcio, caracterizando assim o exotismo (na linha de Leconte de Lisle), e a impassibilidade propostos pelo parnasianismo. Contém o emprego de palavras eruditas (preciosismo vocabular), quanto ao rigor da forma devemos atentar também para os encadeamentos presentes no verso 2 para o verso 3, deste para o 4, e do 5 para o 6; tão usuais nos poemas parnasianos .
Vestígios Divinos
(Na Serra de Marumbi)
Houve deuses aqui, se não me engano;
Novo Olimpo talvez aqui fulgia;
Zeus agastava-se, Afrodite ria,
Juno toda era orgulho e ciúme insano.
Nos arredores, na montanha ou plano,
Diana caçava, Actéon a perseguia.
Espalhados na bruta serrania,
Inda há uns restos da forja de Vulcano.
Por toda esta extensíssima campina
Andaram Faunos, Náiades e as Graças,
E em banquete se uniu a grei divina.
Os convivas pagãos ainda hoje os topas
Mudados em pinheiros, como taças,
No hurra festivo erguendo no ar as copas.
Encontramos nesse uma mistura da cultura Helênica com a Romana, o poeta apenas descreve uma cena do cotidiano dos deuses, o que podemos identificar logo nos primeiro versos: “Houve deuses aqui, se não me engano/ Novo Olimpo talvez aqui fulgia;”
2.3. Parnasiano ou Romântico?
“Num Trem de Subúrbio”
No trem de ferro vimo-nos um dia,
E amarmo-nos foi obra de um momento,
Tudo rápido, como a ventania,
Como locomotiva ou o pensamento.
― Amo –te!
―Adoro-te!
A estação primeira
Surge. Saltamos nela ao som de um berro.
Nosso amor, numa nuvem de poeira,
Tinha passado, como o trem de ferro.
O poema acima não apresenta nenhuma semelhança com outros poemas de Alberto de Oliveira, como por exemplo, “Vaso Grego” não há uma linguagem rebuscada, nem um rigor com a forma e métrica dos versos. Apresenta temática mais sentimental, de uma tocante simplicidade com um meio-humorismo triste.
“Alma em Flor”
III
Que ânsia de amar! E tudo a amar me ensina;
A fecunda lição decoro atento.
Já com liames de fogo ao pensamento
Incoercível desejo ata e domina...
...E sorrindo-me, ardente e vaporosa,
Sinto-a vir ( vem em sonho ) une –me ao seio,
Junta o rosto ao meu rosto e diz – me :― Eu te amo!
É difícil darmos uma idéia fiel desse logo poema, considerado um dos mais belos textos poéticos do autor e talvez de toda a corrente, mas é de todo um poema lírico que narra uma história de amor da adolescência. Segundo Manuel Bandeira, possui uma beleza simples, onde o brilho descritivo se une a emoção. Na parte III, existe uma maior sensibilidade caracterizando-o como poema romântico.
XII
Flores azuis, e tão azuis! Aquelas
Que numa volta do caminho havia,
Lá para o fim do campo, onde em singelas
Brancas boninas o sertão se abria.
À ramagem viçosa, alta e sombria,
Presas, que azuis e vívidas e belas!
Um coro surdo e murmuro zumbia
De asas de toda espécie em torno delas.
Nesses dias azuis ali vividos,
Elas, azuis, azuis sempre lá estavam,
Azuis do azul dos céus de azul vestidos;
Tão azuis, que essa idade há muito é finda,
Como findos os sonhos que a encantavam,
E eu do tempo através vejo-as ainda!
Identificamos características simbolistas, como a epímone que é repetição da mesma palavra. O poema é considerado parnasiano somente por causa da forma.
“Ode ao Ultimo sono”
Grato é os olhos fechar com o dia que se fecha,
E dormir sem reproche ou queixa,
Grato é buscar na sombra o grande olvido,grato
Filho do Averno
Ou do Céu, é sentir teu gélido contacto...
Bem hajas, Sono Eterno!
Nesta última fase, o poeta demonstra uma visão mais pessimista da vida, o poema não apresenta o rigor da forma, já que toda sua escrita é em versos polimétricos.
Alberto de Oliveira assistiu, tranquilamente, através de uma longa existência, ao fim da sua escola poética. Mas o fez com grandeza, serenidade e fino senso estético que foram os traços característicos da sua vida e da sua obra. O Soneto que abre a 4a série das Poesias (1928), é um sem título que diz: “Agora é tarde para novo rumo/ Dar ao sequioso espírito; outra via/ Não terei de mostrar-lhe e à fantasia/ Além desta em que peno e me consumo”, sintetiza bem a sua consciência de poeta e o elevado conceito em que punha a sua arte.
A sua obra é, na verdade, uma gradativa evolução, passando de uma linguagem difícil, vinculada aos temas exóticos de mitologia greco-latina para uma linguagem mais clara e ligada aos temas brasileiros. Revela um gosto especial pela descrição, como nos poemas “O Muro”, “A Estátua”, “O Vaso Grego” etc. Em sua, obra a mulher e a natureza são vistas a partir de uma concepção estética muito rígida.
3. Música
Lapidação das palavras
Presente o descritivismo
Arte pela Arte
É o ideal do Parnasianismo
Métricas são perfeitas
Formalismo da poesia
Preferência pelos sonetos
Volta da mitologia
É uma poesia plástica
Palavra é a matéria prima
Imagens com muitas cores
Ricas são as suas rimas
Olavo Bilac é um príncipe
Um ourives da palavra
Além do amor sensual
Patriotismo exaltava
Na Profissão de Fé
Criou manifesto parnasiano
Não quis saber dos problemas
Considerados urbanos
Na tríade parnasiana
Temos Raimundo Correia
Além de Olavo Bilac
E Alberto de Oliveira
Alberto de Oliveira é ortodoxo
Preso ao rigor formal
Correia aproxima-se do Romantismo
Com a mulher ideal.
“O parnasianismo não é só forma, mas também conteúdo.”
4. Bibliografia
Azevedo,Rafael Sânzio. O Parnasianismo na Poesia Brasileira.
http://www.micropic.com.br/noronha/liter 2.htm
http://graudez.com.br/literatura/parnasianismo.html
Junior, Benjamin Abdala. Antologia de Poesia Brasileira - Realismo e Parnasianimo.